Beet/nick #000: um pouco de caos, um pouco de contexto
Festas juninas, punk, SXSW Londres, Labubu, cinema... e um tanto de fofoca.
Tem dia que a gente acorda criativa. E tem dias que a gente acorda criando desculpa mesmo.
Para quem precisa (ou quer!) criar coisas como um canal de YouTube, um podcast, uma newsletter (aha!) esse é o principal desafio: encontrar o tempo, o formato, o caminho para uma criação consistente.
Corta para: essa é a beet/nick, a newsletter da Beet. um novo canal para falarmos daquilo que importa no nosso dia a dia. Com consistência e com vontade de trocar ideias com as pessoas que também estão criando os novos espaços da comunicação hoje - por isso, escolhemos o Substack como casa.
Spoiler: nem tudo é pra fazer sentido para você. Mas pode render uma boa ideia.
Puxa uma cadeira e vem com a gente.
A beterraba é símbolo daquilo que queremos ser: uma marca que, por fora, tem folhas lindas, mas o que importa nem sempre todo mundo pode ver. Ela nasce da terra, com raízes firmes, conectadas, cheias de história e que entrega ao mundo aquilo que está acima da superfície: cor, sabor, energia.
Acreditamos em conteúdos que partem de uma base sólida, alimentada por conhecimento, repertório e intenção. E que chegam às pessoas com leveza, beleza e impacto.
Nada que nasce raso dura. Nada que cresce escondido transforma.
Por isso somos Beet: intensos por dentro, instigantes por fora.
💂🏼 SXSW em Londres
SXSW vai à Londres — e com ele, a pergunta: dá pra exportar cultura sem perder contexto?
Depois de quase quatro décadas de sol texano, baseball caps e tech talks, o South by Southwest (SXSW) arrumou as malas para viver a vida no verão londrino.
A mudança de cenário parece lógica, e até inevitável, no mundo globalizado. Mas é importante considerar o desgaste recente da edição de Austin, marcada por críticas ao excesso de comercialização e pelo boicote de artistas contra patrocínios militares.
Agora, a região de Shoreditch, área cool do leste de Londres, se torna palco de uma tentativa de atualizar o que já foi o festival mais desejado da cultura tech e criativa global.
Mas o SXSW Londres não quer (ou não pode) ser só uma réplica do outro lado do Atlântico. Os organizadores prometem algo mais ancorado na identidade local: experiências imersivas, parceria com instituições como Tate e British Film Institute, diversidade de verdade e ativações em pubs, ruas e clubes históricos do East End.
Katy Arnander, diretora de programação, crava: “É evidente, pelo interesse inicial, que as ruas do leste de Londres estarão tão vibrantes quanto esperávamos” — e o lineup deve espalhar mais de 400 sessões por quase 30 locais da cidade.
A ambição é alta, mas o risco também. Londres tem outra relação com marcas, com storytelling e com espetáculo. Enquanto Austin vendia autenticidade no calor do deserto, Londres vai ter que entregar profundidade para um público mais cético, menos tolerante a buzzwords e goodie bags. A fórmula do sucesso, agora, depende menos de celebridades em keynotes e mais de conteúdo que realmente conecte com o zeitgeist europeu.
A boa notícia: se SXSW Londres fugir do copy+paste e abraçar o improviso criativo de sua nova casa, pode ser que este seja o reboot que o festival precisava — e o sinal de que inovação ainda tem fôlego, onde quer que seja.
Sabe quem estará por lá? A Beet. Mais especificamente, nossa fundadora Catarina Cicarelli. Então pode esperar updates direto de Soreditch no nosso Instagram e um relato na próxima edição da Beet/nick.
🔗 Veja mais e acompanhe a programação online a partir de sxswlondon.com
🌀 Labubus bilionários
Sabe o Labubu? Aquele bichinho-penduricalho que parece um mascote de filme cult dos anos 90, mas nasceu na prateleira de arte pop contemporânea?
A história é assim: criado pelo artista de Hong Kong Kasing Lung e lançado pela gigante chinesa Pop Mart, o monstrinho peludo de dentes pontudos virou obsessão global entre colecionadores, influenciadores - e, claro, algoritmos.
O que começou como uma linha de designer toys em blind boxes (aquelas caixinhas surpresa com alto potencial de frustração) virou fenômeno de vendas e conteúdo. Só em 2023, a Pop Mart teve faturamento de US$ 632 milhões, com boa parte da receita puxada por Labubu e sua trupe — The Monsters. E isso num mercado onde o valor simbólico (estético, social, de escassez) vale muito mais que o material.
Mas por que agora?
Porque Labubu é feio com charme, misterioso sem lore, e anda na contramão do “fofo previsível”. Ele representa um tipo de afeto estranho — uma espécie de consumo afetivo-nicho que mistura mimo + status + personalidade excêntrica. E, claro, vem com todos os bônus da cultura TikTok: unboxing, escassez programada, fandom engajado, valor de revenda.
No Xiaohongshu (a rede que dita o consumo aspiracional na China), buscas por Labubu cresceram mais de 700% em 2023. No mercado secundário, algumas edições raras ultrapassam R$ 5 mil em sites como StockX e Shopee.
É o designer toy como novo hypewear: estético, inútil, desejável e fotogênico.
A lógica? Ninguém precisa, mas todo mundo quer.
🎧 Cinco livros para ouvir
Por Anna Oliveira, arquiteta de narrativas da Beet
“Rita Lee: uma autobiografia”, de Rita Lee
Terminou o doc “Ritas” e ficou com saudade? Neste audiolivro narrado por Mel Lisboa, que viveu Rita nos palcos, a própria rainha do rock brasileiro conta (com pitacos de Guilherme Samora) sua história com humor, coragem e zero filtro. Pra quem é fã de música, de mulheres que desafiam padrões e de boas histórias bem contadas.
“Dias Perfeitos”, de Raphael Montes
Curtiu a série “Beleza Fatal” na Max? O criador e roteirista-chefe Raphael Montes também é autor desse thriller tenso, narrado em ritmo de respiração presa. “Dias Perfeitos” acompanha Téo, um estudante de medicina obcecado por uma jovem roteirista — e o que começa como romance logo desce a ladeira pro bizarro.
“La carne”, de Rosa Montero
Enquanto a escritora espanhola não chega em Paraty pra Flip 2025, que tal mergulhar nesse romance sobre desejo, envelhecer e o medo da solidão? Em La carne, Rosa Montero mistura vingança, humor, paixão, dramas profissionais e caos emocional com reflexões profundas sobre a vida.
“Robô Selvagem”, de Peter Brown
Da série "o livro é melhor que o filme", a obra que inspirou a animação indicada ao Oscar 2025 é, na verdade, encantadora para todas as idades. Uma robô cai numa ilha e aprende, aos poucos, o que é natureza, convivência e pertencimento. Pra quem gosta de histórias doces, bichos falantes e dilemas bem humanos.
Onde encontrar:
No Brasil, os audiobooks estão disponíveis em diversas plataformas digitais, com destaque para o Spotify, que tem investido pesado no formato, e o Ubook, serviço nacional pioneiro no segmento. Também é possível encontrar títulos em português na Audible, da Amazon, além de bibliotecas digitais como a Storytel e a Tocalivros. Essas plataformas oferecem tanto planos de assinatura quanto opções de compra avulsa, com acervo crescente de obras literárias, biografias, podcasts narrativos e conteúdos originais.
🎞️ Tela quente nos EUA
A temporada de blockbusters nos EUA começou em maio. E vem no mesmo esquema mexidão requentado das temporadas recentes.
O novo “Missão: Impossível” vem turbinado de nostalgia (e cortes do filme anterior jogados fora), “Lilo & Stitch” ganha uma versão live-action que talvez nem Stitch reconheça, e “A Fonte da Juventude”, da Apple, tenta ser Indiana Jones — sem o carisma, sem o mistério e sem a graça.
Mas há boas notícias também. Entre os destaques, está “Pecadores”, um filme original, sem base em franquias famosas e que já bateu US$ 250 milhões nas bilheterias, mostrando que o público ainda tem apetite por ideias novas. Também há espaço para pequenas joias como “Friendship”, uma comédia indie esquisita e encantadora, e “A Melhor Família Feliz dos EUA”, animação de Ramy Youssef que transforma 11 de setembro em ponto de partida para falar de identidade, humor e pertencimento. Vale a leitura completa no Substack do Rodrigo Salem.
Enquanto isso, aqui na América do Sul, o cinema brasileiro é o novo futebol, exaltado pelo sucesso em premiações recentes - quem disse foi a Nina Lemos na Deutsche Welle.
🎙️ Apostando na fofoca
O podcast da Beet com a Ampère chega ao oitavo episódio e entra de cabeça num território que todo mundo ama e pratica: a fofoca.
Substantivo, verbo, combustível de grupos de trabalho, clãs familiares e timelines... A fofoca é uma tecnologia social poderosa e, muitas vezes, mal compreendida. Por isso, neste episódio, a pergunta é dupla:
Por que a fofoca existe?
E o que ela revela sobre como a gente vive, colabora e comunica?
O papo passa por comunicação informal, confiança, cultura organizacional, histórias que a gente conta quando ninguém (ou todo mundo) está ouvindo — e ainda se pergunta: dá pra fazer fofoca do bem?
O É Sobre Isso é uma produção da Beet House e da Ampère Audio, com Cris Dias, Catarina Cicarelli, Gaía Passarelli e Guilherme Pinheiro, roteiro de Alexandre Maron, produção e direção de Anna Maron e edição de Jéssica Corrêa.
Veja no Youtube, ouça no Spotify e saiba mais na newsletter-irmã da Beet/nick, a Boa Noite Internet:
🌽 Acendendo as fogueiras!
por Fê Meirelles, estrategista de comms da Beet
Por que toda marca quer uma festa junina para chamar de sua?
Spoiler: porque é a desculpa perfeita para gerar conteúdo, ter ponto de contato com o território local e fingir que o milho é insight.
E, para você que acabou de ler a frase anterior, calma: ninguém aqui está reclamando, viu?
Esta festa mag-ní-fi-ca que a cultura brasileira nos dá a cada junho nos deixa mais felizes, nos aquece no inverno e movimenta bilhões de reais país afora todo ano - a expectativa para 2025, segundo o Ministério do Turismo, é de ultrapassar os R$3.4 bi.
Além das mil fichas de comidas típicas que você vai equilibrar nas mãos, prepare-se também para encarar uma avalanche de posts temáticos nas redes — fruto do esforço de toda marca que tem um social media no time.
Faz parte? Nem sempre. Algumas brincadeiras a gente até releva, mas as histórias ficam muito mais interessantes quando têm gancho, contexto, histórico e, principalmente, criatividade de verdade.
Do meu lado, a temporada mal começou e já cruzei com pelo menos uns seis designs idênticos, todos com cara de Canva ou toque automático de GPT. Perde a graça rapidinho.
O que é uma pena, porque festa junina é tudo menos genérica. É sabor, é fé, é forró, é memória afetiva. Chegaram ao Brasil no período colonial, trazidas pelos europeus, e encontraram no Nordeste um lar apaixonado. Hoje, as homenagens a Santo Antônio, São Pedro e São João estão no mesmo patamar de popularidade do Carnaval — com tradições religiosas, comidas típicas, música e dança que mudam de estado pra estado.
Ou seja, não faltam caminhos reais para mergulhar no tema e produzir conteúdos com mais alma e conexão.
Então respira, foca no que importa, só distribui like pra quem merece — e, claro, monta com os amigos o seu calendário de festas.
Eu, que moro no interior de SP, já tenho umas dez na lista! Bora ser feliz com o pastel numa mão e o cuscuz na outra.
Você viu algum conteúdo ótimo de Festas Juninas para esse ano? Se sim, manda pra cá - vamos adorar saber:
🎸50 anos do punk
por Gaía Passarelli, head de conteúdo da Beet
O punk fez 50. E o John Cameron Mitchell acha que a geração Z precisa (re)aprender com ele.
Em artigo recente para o New York Times, o performer e cineasta John Cameron Mitchell (de “Hedwig and the Angry Inch”, procure saber) fez uma defesa ardente do espírito punk como estratégia de sobrevivência para os jovens de hoje. Mas não do punk como estética, e sim como postura ativa, coletiva e subversiva diante de sistemas de opressão, vigilância e apatia.
Depois de uma turnê em universidades norte-americanas, Mitchell sentiu que os estudantes estavam mais assustados, mais abertos — e mais carentes de uma rebeldia com causa. Para ele, encontrar o “acesso ao punk” é vital num cenário de pós-democracia, onde a desinformação reina, a ansiedade paralisa e a empatia virou “fraqueza”.
“Punk não é um corte de cabelo. É juntar gente pra criar histórias fora dos sistemas aprovados.”
Ele relembra atos de resistência criativa, como o ativismo queer da era da AIDS, onde artistas invadiram igrejas, cobriram casas de políticos homofóbicos com preservativos gigantes e transformaram protestos em performances que salvaram vidas — em alguns casos, literalmente. Tudo isso com o espírito punk como motor: direto, solidário, e sempre do lado de quem não tem voz.
Mitchell também critica a cultura do cancelamento como distração útil para o autoritarismo, e convoca os jovens a se reconectarem com o mundo analógico, com a conversa cara a cara, com a ação direta e o coletivo real. O punk, segundo ele, ainda está vivo onde houver gentileza, rebeldia e senso coletivo.
“Na pior das hipóteses, o punk faz você se sentir menos sozinho. Na melhor, cria uma mudança real.”
📎 Vale muito a leitura (em inglês, sem paywall) em Today’s Young People Need to Learn How to Be Punk — NYT e nessa edição da minha newsletter aqui no Substack:
🏁 Obrigada por ler até aqui!
Por hoje é isso. A beet/nick volta em 15 dias. Enquanto isso, salva esse e-mail, manda pra quem precisa sair do piloto automático, vai gostar dessa fofoca ou tá pirando em Labubu.